Monday, 9 February 2015

Minha irmã está grávida!

Escrevi esse texto em Novembro de 2014, assim que minha irmã deu as boas novas!


Ontem tivemos uma notícia maravilhosa de que mais um bebezinho está a caminho em nossa família. Minha querida irmã é a mais nova gravidinha da família. Como ela acompanhou bem minha gravidez e minha luta para ter um parto descente e mais humanizado, sabendo o quão traumático foi meu primeiro parto “anormal” cheio de intervenções desnecessárias, me senti à vontade pra tocar no assunto e incentivá-la a ter um parto humanizado também.
Na verdade já tínhamos falado inúmeras vezes do assunto, quando eu estava grávida, quando tive um parto humanizado maravilhoso do meu bebê Nicholas, quando meu irmão e cunhada se informaram e se prepararam pra também conseguir ter um parto lindo e humanizado, quando ela relatava do trauma que teve com sua cesárea, quando a anestesia fez um efeito exagerado, atingindo a área do pescoço e fechando a glote (a impedindo de engolir a saliva), por alguns segundos ela achou que iria morrer ali, e desacordou sem poder ver seu bebê nascer....e também imagina minha felicidade quando ela comentou que já havia idealizado seu parto em casa...
Por isso me senti a vontade pra falar na certeza de que ela já havia se convencido de sua capacidade de parir, e na minha paixão pelo assunto eu não consigo avaliar o contexto e acabo sendo inconveniente....no dia em que minha irmã descobre que está grávida acabamos caindo no assunto de laceração...tudo começou eu acho quando eu estava explicando que o parto deve ser gentil, que o certo não é empurrar, mas sim “ respirar o bebê pra baixo”, e assim não haverá laceração ou ela será mínima...e daí eu conto sobre esse vídeo no youtube sobre 3 parteiras super experientes dos EUA em que elas respondiam perguntas e uma das perguntas é: “É melhor cortar ou rasgar?” e elas respondem unânimes: “rasgar”, isso porquê a laceração acaba acontecendo no local correto e cicatriza mais rápido...Mas nesse momento minha irmã já está olhando pra mim num estado de choque e meu marido bravo dizendo: “esse não é o momento pra falar disso”, e o marido dela desaprovando imediatamente concordou com o meu...E comentou que um de seus amigos médicos disse que tem inúmeros casos de gestantes que perderam o bebê porque “passou da hora”...
Eu tentei dizer, “mas eu estou falando nisso exatamente pra te mostrar que não é assim traumático, não tem que ser assim, e se a fase de expulsão é feita com tranquilidade mesmo se houver laceração ela será mínima e sem dor, de fácil recuperação...e nem consegui comentar sobre o famoso “passar da hora”... quando meu marido repetiu:
“Mas não é o momento de falar disso...” E todos concordaram. Inclusive eu, mas foi tão difícil me segurar... Mais tarde levando a bronca do meu marido eu chorei, me senti péssima, como uma bruxa assustando minha irmã sobre o parto, e tudo o que eu queria fazer era o contrário, era falar pra ela o quanto é lindo e natural, e que ela não deve ter medo da dor...
Eu me senti como um peixinho frágil nadando contra a corrente. Se fico quieta a cultura cesarista vence, se tento falar sou muito passional e assusto. Me sinto tão injustiçada como mulher. Um parto lindo me foi roubado mas no segundo eu me empoderei e consegui, e tudo o que eu quero é falar pra todas as mulheres que elas também são capazes, que se eu consegui elas também podem, que tem muito mito e muita mentira nos enganando por aí, que não é tanta dor assim se você encarar com naturalidade e trabalhar com seu corpo nesse momento...
Eu acredito na minha irmã e em sua força e sei que ela vai tomar a melhor decisão pra ela e seu bebê, mas fico triste por ter que brigar contra essa corrente que vê o nascimento natural como um filme de terror, como um assunto delicado que pode traumatizar, que deve ser adiado até ser tarde demais. Queria muito que fosse diferente, que a empolgação e preparação para o momento do nascimento de nossos bebês acontecessem com a mesma dedicação com que arrumamos o enxoval e o quartinho.
Antes de encerrar o assunto, como ativista apaixonada que agora sou, ainda tentei avisar à minha irmã e cunhado, e essa é uma mensagem importante que sempre dou às gestantes que encontro:  caso desejem ter um parto natural, vocês precisam se informar e se preparar, para ter confiança, segurança e tranquilidade no trabalho de parto, e ser capaz de tomar decisões informadas e não deixar que outros tomem decisões por vocês.




Relato do meu Parto Humanizado do Nicholas

Após as 40 semanas a ansiedade começou a apertar, completei no domingo e combinei com meu marido que se nada acontecesse até quarta, iríamos pra São Carlos ficar lá e esperar. Na quarta nada, pensamos, ah esperamos até quinta. Na quinta decidimos ir pra casa do meu irmão em Ribeirão Preto assim já estávamos mais perto. Na sexta fomos então pra São Carlos. Ficamos num hotel muito gostoso e confortável e como não tínhamos muito a fazer, só nos restava relaxar, nadar e... Tirar fotos embaixo d'água!!!




Foi uma delícia, uma forma muito descontraída de aliviar a ansiedade da “espera pelo bebê” e também uma lembrança muito gostosa de se ter! 
No sábado meus pais vieram e trouxeram nossa filhinha Leela, com quase 2 anos era a primeira vez que ficávamos longe dela por 2 noites. Mas ela estava super bem e muito feliz de ver papai e mamãe.
No domingo completei 41 semanas e passamos o dia curtindo a piscina do hotel mas nada, nenhum sinal de bebê vindo.
Na segunda, ainda deitados na cama, bateu uma pequena ansiedade: o que vamos fazer? O David não queria ir embora pra Franca, por medo de ter que voltar logo em seguida, e eu estava preocupada em ter que ficar mais uma semana pagando hotel caro sem saber quando o bebê chegaria...
Eram 8 horas da manhã, a Leela acordou e me levantei pra fazer sua mamadeira e alguns segundos depois senti minha calcinha bem molhada. Falei David, alguma coisa acontecendo aqui...acho que minha bolsa está rompendo...
Senti que aquilo seria o começo de tudo, então relaxei...é engraçado, eu deveria ter ficado nervosa, é agora, vai rolar, vou sentir dor...mas não, eu tinha esperado tanto, eu decidi por respeitar o tempo do meu bebê e agora chegou a hora, que felicidade! Só me resta relaxar e deixar as coisas acontecerem...foi isso que eu tinha aprendido no livro que li sobre o hipnoparto.
Fomos tomar aquele café da manhã delicioso no hotel, eu não sentia nenhuma dor, e a água continuava a descer, devagarzinho...eu cortei uma fraldinha da Leela e coloquei. Avisei a Doula e ela disse pra ligar pra ela quando as contrações começassem.
Após o café sugeri que fóssemos pra área da piscina, coloquei biquine e fiquei andando em volta da piscina. Tiramos foto no avião que fica nas dependências do hotel, caminhamos pela grama, foi tudo tão tranquilo e gostoso, sem pressa, sem desespero, sem dor...
Fiz até um filminho lindo da Leela dando banho na bonequinha que compramos pra ela...
A certo ponto pensei: pra quê continuar usando essa fralda? Então a tirei e deixei a água da bolsa escorrer pelas pernas, estávamos na área da piscina mesmo, e de quando em quando eu tomava um banho na ducha.
Eu sabia que não podia entrar na piscina pelo risco de infecção pro bebê. E continuei caminhando em volta da piscina...e devagarzinho uma dorzinha levinha de cólica começou a surgir....já era quase meio dia. Minha mãe ficava perguntando: você não quer ir pro hospital filha? E eu respondia irritada que não queria ficar em hospital não, que ali na piscina era muito mais tranquilo. Percebi nesse momento que já havia em mim uma mudança de valores: no TP de minha filha Leela, eu quis correr pro hospital, eu tinha a impressão de que lá estaria mais tranquila e segura. Mas desta vez percebi que eu também podia me sentir tranquila e segura em outro ambiente, que tudo dependia do meu estado emocional e desta vez eu estava confiante, eu sabia o que estava acontecendo com meu corpo, eu podia sentir tudo, e eu sabia que tudo ia correr bem uma vez que eu trabalhasse junto com meu corpo para o calmo nascimento do meu bebê.
O David subiu pro quarto pra descansar e por a Leela pra dormir sua soneca, meu pai foi embora pra Franca. Pedi pra minha mãe ir buscar algo pra gente almoçar e enquanto isso liguei pra Doula e disse que as contrações tinham começado fraquinhas, ela disse pra contar o intervalo das contrações na próxima meia hora e retornar pra ela esse tempo. Comecei a contar e percebi que elas estavam vindo de 3 em 3 minutos!! 
Aí sim comecei a ficar um pouco nervosa, pensei será que está tão perto assim? Liguei pra Doula e ela disse, vai pro hospital, eu te encontro lá.
Quando minha mãe chegou eu já tinha juntando todas as coisas e disse pra ela que as contrações estavam muito perto. Fomos pro quarto e foi aquele desespero: toma banho, pega mala, junta as coisas, troca a Leela, e daí sim comecei a sentir as contrações!! Tinha que parar à cada 3 minutos e respirar.
Fomos pro hospital e no caminho me senti como que naquelas cenas de novela...vai amor, corre, não vai dar tempo, não pára no sinal, esse FDP não podem deixar a gte atravessar!!! rsrsr 
Chegamos lá por volta de 1:30, e então vou para a recepção fazer ficha, contração vem e eu páro pra respirar, é uma situação meio absurda essa de eu ter que fazer uma ficha no hospital no meio do processo de nascimento do meu bebê. Lembro que no livro a autora alertava pra isso e falava pra ir no hospital antes e deixar tudo pronto pra não ter que passar por isso, mas eu não sei, acho que ignorei essa parte do livro :)
Espero o elevador, que sinceramente, deve ter demorado 30 min para chegar. Deve ter tido umas 10 contrações lá no corredor, esperando, abaixando, respirando.
Já no quarto a enfermeira faz o exame e constata que estou de 5cm! Ótimo, estou no meio do caminho! 
A Doula chega em seguida e começa a organizar o local, põe uma música suave, amarra os panos no teto, tira seus equipamentos e também me auxilia a cada contração. Meu marido está resolvendo o pagamento ao hospital e minha mãe cuidando da Leela. A Leela ficava um pouquinha assustada quando me via tendo as contrações, que agora estavam bem mais fortes. Ela me olhava e dizia mamãe? Como que a perguntar se eu estava bem. Eu dizia, está tudo bem querida, o bebê está vindo! Eu concordo com as crianças estarem lá presentes no nascimento de um bebê, acho esse um momento mágico e muito importante para a família. Porém senti que a Leela estava num momento um pouco crítico de aprender a falar e aprender a discernir situações e não senti que ela estava à vontade lá, ela estava agitada e eu não queria que ela se assustasse, tivemos a sorte da minha irmã chegar de Franca nesse momento e ela levou a Leela para almoçar.
O David está de volta e me ajuda durante todas as contrações. Ele me abraça, faz massagem, aperta meu quadril. Minha mãe também está lá me dando apoio e eu me sinto amada e protegida neste momento, e estou tão feliz por ter as pessoas que mais amo por perto.
Eu já estava louca pra entrar na banheira e a Doula então encheu com água bem quentinha e quando entrei foi uma sensação maravilhosa... me senti acalmar e relaxar e pude ouvir a música e me sentir tão em casa, tão segura, tão consciente daquele momento maravilhoso e tão certa de que tudo ia ficar bem...
A partir daí já havia perdido a noção do tempo e por meu corpo estar mais relaxado, senti que a coisa estava caminhando rápido e as contrações ficando cada vez mais fortes. Me segurei naquele pano amarrado no teto, e fiquei ajoelhada na banheira, meio que sentada em meu calcanhar, a cada contração que vinha eu levantava o bumbum e segurava forte no pano, esticando meu corpo. Me concentrei na minha respiração J, inspirando bastante ar e deixando soltar pelo nariz bem lentamente, mas ao mesmo tempo sentindo grande parte deste ar descer pela garganta, peito e ventre...Nesse momento estou na partolândia. Já nem abro meus olhos durante as contrações. Não consigo falar, mal consigo me mover porque no intervalo parece que todas as minhas energias foram sugadas. Sinto pressão, não sei dizer ao certo se era dor. Estou focada na minha respiração, e isso me permite concentrar minhas energias no processo ao invés de concentrá-las na dor, então agora consigo entender porque muitas mulheres dizem que não sentem dor. É este o segredo, o segredo é esquecer a dor, é ignorar a dor, é concentrar em outra coisa, nesse caso, na respiração, que vai ajudar meu bebê a descer e a vir para os meus braços. Eu devo ter feito a lição de casa certinho J, porque sinceramente não me lembro da dor...A enfermeira veio me examinou novamente e não me disse nada, só vi ela fazendo um sinal de sim com a cabeça e isso queria dizer: pode chamar o médico...eu sabia que estava muito perto e eu devia estar já de 9 para 10 cm.
Foi logo em breve que senti algo muito forte, deve ser aquele momento da dor insuportável em que as mulheres gritam muito, mas eu continuava lá, quietinha, respirando forte, porém senti que chegara a um ponto que perdi a concentração, e pensei: a pressão é imensamente forte e mais do que isso não aguentarei. E então num instinto maternal eu subi uma das pernas para ficar de cócoras e senti a cabecinha de meu bebê escorregar para fora. A enfermeira pediu que eu virasse deitada de frente na banheira para ter espaço para o bebê nascer. Assim fiquei por alguns longos segundos, meio apagada, respirando tranquila e a cabecinha dele lá já de fora pra todo mundo ver. Não conseguia me mexer nem falar nada. Mas ouvi o David perguntar pro médico: “tudo bem”? E o médico respondeu, tudo bem, e me disse...fique tranquila, descanse, e espere a próxima contração. E foi isso que eu fiz. As contrações pararam, não vinham. Mais tarde o médico disse que é normal pois o útero relaxa depois que a cabecinha do bebê sai. Mas naquele momento eu senti que era a hora, que não dava pra esperar muito e recobrei minhas forças e respirei pela última vez para trazer meu bebê pro mundo. Sem fazer força, tentei fazer exatamente o que dizia no livro: respirei meu bebê pra baixo. E foi assim que Nicholas veio ao mundo.
Eu estava tão perdida no tempo que acho que pensei que estava na Irlanda e soltei um "Oh my God". Foi quando cheguei àquele momento que tanto visualizei por toda a gestação. O momento em que meu bebê chega ao mundo naturalmente. Nicholas estava alerta, com os olhinhos abertos, calminho e sereno no meu peito. Foi um momento maravilhoso. Sou mil vezes grata ao universo por ter me dado essa oportunidade. 







Meu querido médico Rogério Gonçalves Lima 



Minha querida Doula Vânia Bezerra