Escrevi esse texto em Novembro de 2014, assim que minha irmã deu as boas novas!
Ontem tivemos uma notícia
maravilhosa de que mais um bebezinho está a caminho em nossa família. Minha
querida irmã é a mais nova gravidinha da família. Como ela acompanhou bem minha
gravidez e minha luta para ter um parto descente e mais humanizado, sabendo o
quão traumático foi meu primeiro parto “anormal” cheio de intervenções
desnecessárias, me senti à vontade pra tocar no assunto e incentivá-la a ter um
parto humanizado também.
Na verdade já tínhamos falado
inúmeras vezes do assunto, quando eu estava grávida, quando tive um parto
humanizado maravilhoso do meu bebê Nicholas, quando meu irmão e cunhada se
informaram e se prepararam pra também conseguir ter um parto lindo e
humanizado, quando ela relatava do trauma que teve com sua cesárea, quando a
anestesia fez um efeito exagerado, atingindo a área do pescoço e fechando a glote (a impedindo de
engolir a saliva), por alguns segundos ela achou que iria morrer ali, e
desacordou sem poder ver seu bebê nascer....e também imagina minha felicidade
quando ela comentou que já havia idealizado seu parto em casa...
Por isso me senti a vontade pra
falar na certeza de que ela já havia se convencido de sua capacidade de parir,
e na minha paixão pelo assunto eu não consigo avaliar o contexto e acabo sendo
inconveniente....no dia em que minha irmã descobre que está grávida acabamos
caindo no assunto de laceração...tudo começou eu acho quando eu estava
explicando que o parto deve ser gentil, que o certo não é empurrar, mas sim “
respirar o bebê pra baixo”, e assim não haverá laceração ou ela será mínima...e
daí eu conto sobre esse vídeo no youtube sobre 3 parteiras super experientes
dos EUA em que elas respondiam perguntas e uma das perguntas é: “É melhor
cortar ou rasgar?” e elas respondem unânimes: “rasgar”, isso porquê a laceração
acaba acontecendo no local correto e cicatriza mais rápido...Mas nesse momento
minha irmã já está olhando pra mim num estado de choque e meu marido bravo
dizendo: “esse não é o momento pra falar disso”, e o marido dela desaprovando
imediatamente concordou com o meu...E comentou que um de seus amigos médicos
disse que tem inúmeros casos de gestantes que perderam o bebê porque “passou da
hora”...
Eu tentei dizer, “mas eu estou
falando nisso exatamente pra te mostrar que não é assim traumático, não tem que
ser assim, e se a fase de expulsão é feita com tranquilidade mesmo se houver
laceração ela será mínima e sem dor, de fácil recuperação...e nem consegui
comentar sobre o famoso “passar da hora”... quando meu marido repetiu:
“Mas não é o momento de falar
disso...” E todos concordaram. Inclusive eu, mas foi tão difícil me segurar...
Mais tarde levando a bronca do meu marido eu chorei, me senti péssima, como uma
bruxa assustando minha irmã sobre o parto, e tudo o que eu queria fazer era o
contrário, era falar pra ela o quanto é lindo e natural, e que ela não deve ter
medo da dor...
Eu me senti como um peixinho
frágil nadando contra a corrente. Se fico quieta a cultura cesarista vence, se
tento falar sou muito passional e assusto. Me sinto tão injustiçada como
mulher. Um parto lindo me foi roubado mas no segundo eu me empoderei e
consegui, e tudo o que eu quero é falar pra todas as mulheres que elas também
são capazes, que se eu consegui elas também podem, que tem muito mito e muita
mentira nos enganando por aí, que não é tanta dor assim se você encarar com
naturalidade e trabalhar com seu corpo nesse momento...
Eu acredito na minha irmã e em
sua força e sei que ela vai tomar a melhor decisão pra ela e seu bebê, mas fico
triste por ter que brigar contra essa corrente que vê o nascimento natural como
um filme de terror, como um assunto delicado que pode traumatizar, que deve ser
adiado até ser tarde demais. Queria muito que fosse diferente, que a empolgação
e preparação para o momento do nascimento de nossos bebês acontecessem com a
mesma dedicação com que arrumamos o enxoval e o quartinho.
Antes de encerrar o assunto, como
ativista apaixonada que agora sou, ainda tentei avisar à minha irmã e cunhado,
e essa é uma mensagem importante que sempre dou às gestantes que encontro: caso desejem ter um parto natural, vocês
precisam se informar e se preparar, para ter confiança, segurança e
tranquilidade no trabalho de parto, e ser capaz de tomar decisões informadas e
não deixar que outros tomem decisões por vocês.
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